É a viagem hipnótica de um homem guiado pelos sonhos. Entre imagens do seu amor perdido e do seu improvável encontro em Lisboa ele é projetado para Cabo Verde onde se revela a dualidade dos seus sentimentos.

Sinopse
No telemóvel de Alain, realizador belga nos seus cinquenta anos, surge uma foto misteriosa.
Tem o tempo suficiente para reconhecer Luísa, essa atriz portuguesa que ele amou apaixonadamente há sete anos, durante as filmagens do seu filme que permanece inacabado.
Obcecado por essa imagem, que perceciona como um convite divino, deixa a sua casa na Bélgica para regressar a Lisboa e rever a sua atriz. Uma vez chegado, descobre que ela desapareceu, enquanto uma desconhecida se oferece para o ajudar na sua investigação.
Começa, então, para ele uma viagem hipnótica guiada por um sonho entre o seu passado, o presente em Lisboa e o seu imaginário em Cabo Verde, onde se irá revelar a dualidade entre essas duas mulheres.
Mensagem do Filme
ENCONTRO é, também, um filme de autor, onde o personagem faz de eco do realizador em direção à destruição, já que a história do filme se desenrola em torno de um filme que é preciso terminar, custe o que custar. Como num conto fantástico.
ENCONTRO não transmite uma mensagem formal, mas antes informal, visto que entre as imagens se desenha um questionamento sobre as incertezas do ser humano face às suas fragilidades.
A fragilidade dos sentimentos face à obsessão do desejo, a obsessão do tempo que queremos guardar através das trajetórias da imagem que acabam por invadir virtualmente o nosso cérebro.
Na hora em que as nossas sociedades inquietas querem tudo conhecer, ter toda a informação e a tudo compreender, e ao mesmo tempo, tudo formalizar, tudo normalizar, ENCONTRO destaca-se desta espiral e quer mostrar que a única certeza à qual nos podemos ligar é a verdade emocional.
Nota do Realizador
Com ENCONTRO quis acompanhar o personagem Alain, de cinquenta e alguns anos, num cruzamento de caminhos em procura da verdade perante ele próprio e perante a sua relação com o amor.
O filme remete-nos, também, para as definições, para as formas, para os sentidos e para as cores da palavra amor. Amor paixão, sexual, perdido, encontrado, ausente, filial, fraternal, incondicional, escondido, amistoso, envolvente. Todo um horizonte de possibilidades.
Pretendi dar a este filme uma tonalidade singular, cruzando o espaço-tempo em três dimensões: um passado, um presente, e um futuro imaginário inscrito num mundo fantástico situado em Cabo Verde. Essa visão imaginária do tempo é mostrada sob a forma de um sonho acordado, ativado pelo subconsciente de Alain.
Na sua fantasmagoria, Alain sonha que vai encontrar Luísa em Cabo Verde. O filme apresenta, então, imagens de Cabo Verde que são as “imagens dos pensamentos”. Para mim, são uma espécie de condensador de pensamentos, e por consequência, o produto de uma visão em diferido à imagem do sonho.
Sendo assim, o cruzamento das “imagens dos pensamentos” e das imagens do presente em Lisboa marca o ritmo dramatúrgico e convida o espectador à dialética e ao questionamento.
O arranque do filme incita o espectador a abandonar a visão puramente racional da temporalidade e convida-o a entrar numa dimensão onde a história se desdobra até criar um suspense e provocar um resultado.
O fim do filme fornece elementos de resposta, deixando o espectador livre para não os aceitar.
Como cineasta documentarista, misturar o real com o imaginário foi-me imposto. Uma limitação imperiosa, mas livremente consentida e para ser vista com curiosidade.
O jogo trazido pelos personagens principais evolui, portanto, para um diálogo entre a realidade e a ilusão. As mulheres encarnando o real, e Alain perseguindo a ilusão.
Uma intenção importante para mim: “A imagem” e o papel que ela ocupa atualmente no nosso quotidiano, indo ao mais profundo da nossa intimidade. Alain está possuído por essas imagens de Luísa captadas sete anos antes. Elas vão incitá-lo à transgressão, justificando a violação da intimidade de Luísa. Tendo essas imagens, Alain assume-se como o guardião legítimo e possuidor do passado de ambos.
Os novos instrumentos digitais, que transformaram as nossas vidas, tornam-nos prisioneiros das nossas imagens. Tudo é um pretexto para captar e fixar o instante presente. O filme reenvia a “imagem” como um espelho de nós próprios e provoca um sentimento de nostalgia.
ENCONTRO é um filme cuja intenção é questionar, mais do que transmitir uma mensagem formal e a nostalgia é, também, um tema central de questionamento neste filme.
Como viver um presente e construir um futuro, permanecendo sob a influência da nostalgia? É essa a resposta que Alain, o protagonista deste filme, busca na sua errância, deixando-se levar unicamente pela sua intuição.